Numa das suas viagens pelo mundo, o Papa foi a Angola. Quando já se dirigia para o aeroporto de Luanda para regressar ao Vaticano, ao passar por um dos "bairros de latas" dos arredores da cidade, ao ver a pobreza que grassava por todo o lado, não resistiu e resolveu ali fazer uma paragem para conversar um pouco com os moradores.
Perante a insistência do seu séquito em se apressar, pois o avião levantaria voo daí a duas horas, resolveu Sua Santidade que, para não se atrasarem, todos os acompanhantes seguiriam para o aeroporto para adiantarem os preparativos da partida e tratarem de todas as formalidades, enquanto ele ficaria por ali mais alguns momentos.
– Não se preocupem, – disse Sua Santidade – vão andando que eu hei-de arranjar por aqui alguém que me leve até ao aeroporto.
E assim ficou resolvido.
Distraído com a conversa que estava tendo com os moradores, só reparou nas horas que eram quando faltava já só uma hora para o avião. Perguntou então se haveria alguém que o pudesse levar de automóvel até ao aeroporto.
– Não vai poder não. – respondeu-lhe um dos moradores – esprêto aqui dos musseque num tem automóvel… Só tens uns Taxi que nesta hora já num pode trabalhar, pois és poribido despois dos sete horas… e os taxista num qué sê preso por conduzir quando és poribido…
Para ultrapassar a situação, propôs então Sua Santidade que o taxista seguisse no banco de trás enquanto o Papa conduziria a viatura, o que foi suficientemente convincente e assim se fez.
Já à entrada de Luanda foram interceptados por um polícia que os mandou parar.
– Intão num sabe q'és poribido circular a esta hora? Mostra lá seus papel.
Claro que "papel" o Papa não tinha, pois tinha seguido tudo com o séquito para o aeroporto. Por outro lado, lá no banco de trás, o taxista estava de tal modo apavorado com receio de ir parar à cadeia que não conseguia proferir uma única palavra.
– Num tens papel?! Chiii… mas que grande pobrema… Espera aí que tenho que falar ao chefe…
Ligou então o polícia pelo Walkie-Talkie ao seu chefe e explicou:
– Chefe. Tens aqui uns grande pobrema… Tens um senhor muiiito importante num taxi, mas que num têm papel… – e a conversa continuava – … Quem? O presidente Eduardo dos Santos?… Não chefe… És muiiito mais importante!…. Quem chefe?… o Bir Crinton amaricano… Não chefe… És muuuiiiito mais importante ainda…
Claro que do outro lado, o chefe continuava a insistir, ao que lhe responde finalmente o polícia:
– Olha chefe. Eu nunca o vi nim sei quim é… Só sei que és memo, memo muuuuiiiito importante… Olha, és tão importante, tão importante que até o Papa é que és o chófer dele!…